A espécie Manta birostris ou Mobula birostris, vedete dos mergulhadores da Laje de Santos e também do mundo inteiro, conhecida como raia jamanta ou manta gigante, é a maior espécie de raia do mundo e foi descrita em 1792 pelo ictiólogo alemão Johann Julius Walbaum.
É um dos maiores peixes do mundo, podendo alcançar oito metros de envergadura e pesar mais de duas toneladas.
As manchas e pintas no ventre de cada indivíduo são únicas, como as impressões digitais em seres humanos, servindo para diferenciá-los. As manchas e pintas ventrais, apesar de poderem sofrer uma intensificação de coloração ao longo da vida de cada indivíduo, não sofrem alterações ao longo de sua vida, permitindo que sejam catalogados por meio do processo de Foto Identificação, ou seja, permitindo a criação do "RG" de cada animal.
Ostentam coloração sempre negra em seu dorso. A coloração mais comum, também conhecida como "chevron", é branca no ventre, com as bordas das imensas nadadeiras peitorais cinza. Essas bordas cinzas é que são chamadas de "chevron", o que deu o apelido à coloração comum. Em seu ventre (entre o último par de fendas branquiais e o início dos órgãos reprodutivos) é que localizamos as manchas e pintas, em tons de cinza até o preto, que nos permitem proceder à identificação de cada animal. Nesta coloração "padrão" para a espécie M. birostris, não observamos animais com nenhuma mancha ou pinta na região da cabeça.
Foto Leo Francini, Projeto Mantas do Brasil.
As variações de coloração incluem as mantas negras (melanísticas, ou seja, possuem muita pigmentação ou melanina), muito raras em águas brasileiras.
Negra tanto do dorso como também no ventre, a Foto Identificação dos indivíduos é realizada pela observação das manchas brancas que cada indivíduo ostenta em seu ventre, da região da cabeça até as proximidades dos órgãos reprodutivos. No Brasil foram catalogados apenas 6 indivíduos de coloração melanística dentre os primeiros 160 registros efetuados pelo Projeto Mantas do Brasil, e as manchas brancas (na verdade, as porções de coloração branca são apenas a ausência da pigmentação negra) foram observadas na região da cabeça.
Foto Maurício Andrade, Projeto Mantas do Brasil.
As mantas leucísticas são aquelas com pigmentação escassa, outra raridade entre a população de mantas do Sudeste brasileiro. Nesse "padrão" de coloração, observamos animais com pouca pigmentação, ausência de chevron ou chevron falhado e descontinuado.
Foto Leo Francini, Projeto Mantas do Brasil.
Muito embora se alimentem de plâncton e pequenos peixes filtrados da coluna d´água, sem qualquer processo de mastigação do alimento, cada indivíduo possui de três a quatro mil micro dentículos em sua mandíbula inferior. A utilização conhecida desses milhares de micro dentículos está restrita ao processo de acasalamento, durante o qual o macho morde a asa esquerda da fêmea, induzindo-a a um estado de imobilidade tônica.
Apesar de as raias mantas impressionarem com suas dimensões e velocidade de natação, esses são seus únicos meio de defesa, pois não possuem ferrão ou espinho.
Seu cérebro é o maior entre todas as espécie de peixes do mundo, mesmo se considerada a proporção ao tamanho de seu corpo.
São animais de vida longa, podendo viver mais de 40 anos, mas sua expectativa média de vida gira em torno dos 20 anos.
Ao contrário de diversas espécies de tubarões e raias, as raias mantas não botam ovos. São animais vivíparos (viviparidade matotrófica ou matrotrófica), dando à luz apenas um filhote por gestação, que dura aproximadamente 12 meses.
Normalmente o intervalo entre gestações é de dois anos, o que faz com que uma fêmea seja capaz de gerar apenas 4 ou 5 filhotes em toda a sua vida.
Sâo capazes de deslocar-se por grandes distâncias nos oceanos e realizam mergulhos a profundidades superiores a mil metros em águas a temperaturas próximas a 3° Celsius.
A grandiosidade do seu tamanho pode ser comparada à sua docilidade. Costuma interagir pacificamente com seres humanos, encantando desde os mergulhadores iniciantes até os mais experientes com e beleza de suas gentis e sofisticadas manobras.
Em 2009 foi descrita (na verdade, redescrita) uma segunda espécie de raia manta, denominada Manta alfredi (ou Mobula alfredi ), popularmente conhecida como manta de recife, cuja população era antes considerada em conjunto com a da espécie Manta birostris.
A espécie Manta alfredi , na verdade, Deratoptera alfredi, foi mencionada pela primeira vez em 1868 pelo paleontologista australiano Gerard Krefft. Mas a descrição não foi então aceita, juntamente à homenagem ao Príncipe Alfred, segundo filho da Rainha Vitória da Inglaterra que havia sofrido um atentado naquele ano. A redescrição do gênero manta com o ressurgimento da espécie Manta alfredi (ou Mobula alfredi ) foi publicada em 2009 pela Dra. Andrea Marshall, mantendo o nome e a homenagem prestada no passado pelo pesquisador australiano.
Uma provável terceira espécie de raia manta incidente no Atlântico Norte (no Golfo do México) está em vias de ser descrita por especialistas, entre eles a própria Dra. Marshall.
Desde 2011 ambas as espécies de raias mantas estão classificadas como VULNERÁVEIS À EXTINÇÃO na lista vermelha da IUCN, em razão de sua lenta capacidade reprodutiva, pesca excessiva e captura acidental por redes de emalhe e espinhéis.
Em 2013 foi aceita a proposta feita pelo Brasil e Equador e classificada pelos países signatários da CITES como proibição total de comercio internacional de partes ou derivados.
Também em 2013 aqui no Brasil foi criada a Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA, que proíbe a pesca, retenção a bordo, comercialização de raias da família Mobulidae em todo o território nacional.
Após estudos genéticos e mesmo diante de expressivas diferenças morfológicas, as duas espécies de raias manta foram taxonomicamente reclassificadas, tendo sido o gênero Manta sinonimizado ou fundido com o gênero Mobula, daí a possibilidade de fazermos referência a cada uma das espécies como Manta birostris ou Mobula birostris, assim como Manta alfredi ou Mobula alfredi.
Conhecidas como gigantes gentis, as raias mantas compõe a chamada megafauna carismática, animais que valem muito mais vivos do que mortos, movimentando o turismo de mergulho em todo o mundo na qualidade de recurso perene do rico segmento do turismo mundial. Uma das missões do Projeto Mantas do Brasil é levantar e defender essa bandeira, para que, nem que seja pelo potencial econômico gigantesco da observação turística desses animais, eles estejam cada vez mais protegidos da avidez desinformada da caça e da pesca no Brasil e no mundo.